sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Para começar bem

“Oficialmente, deveria haver comida na escola: um programa do governo previa a distribuição de três rotis, daal amarelo e picles para cada garoto na hora do almoço. Eu, porém, nunca vi nem pão, nem guando, nem picles, e todo mundo sabia por quê: o professor roubava o dinheiro do nosso almoço.
E tinha uma desculpa perfeitamente legítima para fazer isso, pois dizia que não recebia seu salário há seis meses. Ia iniciar um protesto pacífico para recuperar os salários atrasados: não faria absolutamente nada na sala de aula até que o cheque do seu pagamento chegasse pelo correio. Mas, ao mesmo tempo, tinha pavor de perder o emprego, porque, embora os salários de qualquer funcionário público na Índia sejam baixíssimos, há inúmeras vantagens indiretas. Um dia, chegou à escola um caminhão trazendo uniformes que o governo tinha mandado para nós; nunca vimos nenhum deles, mas, uma semana depois, lá estavam aqueles uniformes à venda no vilarejo vizinho.
Ninguém censurava o professor por fazer essas coisas. Não se pode esperar que um homem mergulhado num monte de bosta cheire bem. Todos na aldeia sabiam que teriam feito exatamente a mesma coisa se estivessem em seu lugar. Alguns tinham até orgulho dele, por conseguir se safar com tanta dignidade.”
[pág. 32-33]

Soa familiar, não? Se não fossem alguns pequenos detalhes que indicam que ação se passa na Índia, e não no Brasil, poderíamos perfeitamente deduzir que é apenas mais um caso de desvio de dinheiro público que ocorre tão freqüentemente que ninguém se importa mais. Na verdade, o trecho faz parte de um livro ótimo que ganhei de natal e já devorei.


Assustadoramente familiar e semelhante à realidade brasileira. Afinal, corrupção, exploração da miséria e falta de perspectiva não diferem muito de um país para outro, não é mesmo?

Quem quiser pode ler um pouco mais no site oficial, onde há ainda o que se disse sobre o livro na imprensa, papel de parede e informações sobre o autor.

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