segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Resenha: Norwegian Wood


Toru Watanabe tem 37 anos e está em um voo rumo à Alemanha. Ao ouvir "Norwegian Wood", dos Beatles, sua mente o transporta para os anos 60, em sua juventude, quando preenchia seus dias monótonos divido entre o amor não realizado por uma garota depressiva, as aventuras sexuais com desconhecidas e o interesse por uma garota moderna e independente, mas que já estava em outro relacionamento. Assustado ao perceber que está esquecendo a amada, Toru resolve escrever um livro para resgatar suas memórias e fazer as pazes com o passado.

Há muitos personagens no livro, mas todos guardam uma característica em comum: a melancolia. Todos parecem se deixar levar vida afora, sem nunca esboçar seus desejos reais, sem nunca lutar pelo que querem. E todos estão, de alguma forma, presos ao passado. O único que vai atrás de seus objetivos e se impõe é o colega de faculdade de Toru, Nagasawa. Por ser sempre direto e honesto (até demais), ele é visto como uma pessoa fria e cruel, quando, na verdade, seu defeito é apenas ser sincero e ter atitude.

Já Toru é o típico invisível, sempre acomodado com as sobras. Na adolescência, era o melhor amigo de Kizuki, que, por sua vez, namorava Naoko. Os três estavam sempre juntos e Toru era apaixonado por Naoko, mas se contentava em ficar ali do lado, só olhando. Quando Kizuki comete suicídio, o frágil equilíbrio da relação dos três se desfaz e Naoko nunca se recupera do choque. Anos mais tarde, Naoko e Toru se reencontram e dão início a um relacionamento estranho, sem palavras, em que a presença um do outro era o que bastava para tentar resgatar o contato com o membro perdido do triângulo.

Provando sua capacidade de coadjuvante, Toru mais uma vez se envolve com outro casal (Nagasawa e Hatsumi) e, mais adiante, acaba entrando no relacionamento de Midori e seu namorado. Quando percebe, Toru se tornou o vértice de mais um triângulo, formado por Naoko e Midori. As duas garotas são opostas em quase tudo: enquanto Naoko era tímida e calada, Midori era direta e adorava conversar, falando tudo o que lhe vinha à cabeça; Naoko fazia sexo com Toru, mas não se envolvia emocionalmente e vivia com a constante lembrança do morto (a morte é algo ruim para ela), enquanto Midori adorava falar de sexo, mas se recusava a ter qualquer contato com Toru, e tinha uma relação tranquila com a morte (tendo convivido sempre com doentes, a morte era uma bênção para ela).

Aliás, morte e sexo são questões fundamentais no livro. A morte é apenas um componente da vida e os personagens precisam aprender a lidar com ela. Os que a aceitam como parte natural do caminho conseguem manter o controle da situação e seguem adiante, guardando os mortos na memória apenas. Outros não sabem lidar com a perda e se arrastam pelos dias, carregando o fardo dos mortos sobre os ombros. O sexo surge como um elo de ligação com o passado, uma forma de contatar os mortos e continuar a viver. Por exemplo, transar com Toru era a forma de Naoko se aproximar de Kizuki; Reiko (uma amiga de Naoko) também procura o sexo com Toru para relembrar a amiga e para se reconciliar consigo mesma e com sua história, para se libertar da culpa e conseguir dar um rumo à vida.

Embora eu tenha gostado bastante da leitura, não foi exatamente o que eu esperava. Depois de ter sido positivamente surpreendida pela narrativa peculiar do Murakami em “Minha querida Sputnik” e de ter lido vários comentários apaixonados sobre “Norwegian Wood”, comecei o livro cheia de expectativa e, claro, me decepcionei. As metáforas, a delicadeza, o pano de fundo da revolução cultural e sexual dos anos 60/70, inúmeras referências literárias e musicais... tudo isso está no livro e me agradou imensamente, mas não consegui me ligar tanto aos personagens. Foi uma boa experiência, mas não teve “aquele” impacto, sabe?

“Só quando pisávamos nas grandes folhas mortas de sicômoro caídas pelo caminho podíamos ouvir um estalido seco. Ao ouvir esse ruído, eu sentia pena de Naoko. Não era o meu braço que ela procurava, mas o braço de outra pessoa. Não era o calor do meu corpo que ela buscava, mas o calor do corpo de outra pessoa. De certa forma eu sentia a consciência pesada pelo simples fato de ser eu mesmo”.

Livro gostoso de ler, apresentando angústias e reflexões de fácil identificação. O ritmo calmo pode desagradar algumas pessoas, mas é essencial para entender as coisas da perspectiva dos personagens. 

Este post faz parte do projeto Volta ao Mundo em 12 Livros - Mês de Fevereiro: Haruki Murakami. Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do #VAM12L, clique AQUI.

5 comentários:

Anônimo disse...

Mi, é assim mesmo, eu também já fui com muita sede ao pote em relação a vários livros. Mas o importante é que foi uma leitura boa, né? Estou ansiosa pra ler outro livro dele, acho que vou gostar da maioria.
=)
Beijos!

Unknown disse...

Pronto né D. Michelle, agora eu nao sei mais de leio Sputinik ou esse... ô dúvida cruel! :)

Melissa Padilha disse...

Estou super curiosa para ler Murakami, está na minha lista de autores para conhecer em 2014, apesar de querer ler esse livro, vou começar por 1Q84.
bjos

Anônimo disse...

Estou atrasando a leitura desse livro a séculos. Conheci Norwegian Wood por causa do filme (de mesmo nome). Eu gostei bastante do ritmo do filme e da narrativa. E espero que a leitura seja igualmente positiva. Já viu o filme? Beijos, Michelle!

Michelle disse...

Lua,
Foi assim mesmo. Mas gosto como ele escreve e quero ler coisas do Murakami.

Quel,
Leia os dois! ;)

Melissa,
Ainda não estou preparada para encarar uma trilogia. Mas pretendo ler mais para a frente.

Lulu,
Eu vi o filme assim que terminei a leitura. E achei fraquinho. Ia até falar dele aqui, mas desanimei. Se gostou do filme, certeza que vai amar o livro. Depois me conta!