quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Série: Santa Clarita Diet - Temporada 1


Sheila (Drew Barrymore) e Joel (Timothy Olyphant) são casados e trabalham como corretores imobiliários. Um dia, durante a exposição de uma casa a possíveis compradores, Sheila passa mal e vomita no carpete novinho do imóvel. Enquanto o marido conduz os clientes a outros cômodos, ela se tranca no banheiro e vomita. E vomita. E vomita. Joel a leva ao pronto-socorro, onde passam horas sem ser atendidos, e depois vão para casa. E é então que ele descobre que a esposa está... morta.


‘Santa Clarita Diet’ é uma série de comédia e terror, um ‘terrir’ se preferirem. Definitivamente, não é para qualquer pessoa, mas aqueles que se aventurarem vão se divertir muito, sem dúvida. Só não recomendo assistirem na hora das refeições (que foi o meu caso) porque a cena de vômito é realmente nojenta. As imagens de canibalismo e estripamento não me afetam, mas com vômito é difícil lidar.


Mas voltando à história... Joel fica preocupado e tenta descobrir o que está acontecendo com a esposa. A resposta vem de onde menos esperam: da boca do vizinho nerd, que afirma categoricamente que Sheila é um zumbi. E que deve se alimentar constantemente para manter sua impulsividade sob controle. O problema, como eles logo descobrem, é que agora ela só consegue comer carne humana fresca. Algo ‘fácil' de conseguir, não é mesmo?


Se, por um lado, a escolha do 'prato do dia' e seu 'preparo' é uma tarefa complicada (e divertidíssima, já que Sheila e Joel são novatos na arte da matança) e gera certos conflitos morais entre o casal, por outro, a mudança de comportamento de Sheila é benéfica para ela. Ao contrário do que normalmente acontece em histórias de zumbis, ela não fica mais lerda nem abobalhada; ela ganha mais energia e mais força física, sua libido aumenta, ela se sente mais confiante e passa a impor mais suas vontades (e também começa a xingar mais, o que não é bem uma vantagem, mas é engraçado).


O interessante na série é que, por trás de uma história de zumbi engraçada, assuntos sérios são abordados. Como o relacionamento familiar, por exemplo. A transformação de Sheila altera drasticamente a rotina da família, mas acaba aumentando a cumplicidade entre mãe e filha e fortalecendo os laços entre marido e esposa. Com leveza, o programa brinca com os estereótipos de masculino e feminino, já que é Sheila a criatura feroz, mas sempre atribuem a violência e os assassinatos a Joel. Ele, aliás, sente sua masculinidade ferida em alguns momentos, quando é chamado de 'banana' por ficar com a parte fácil do trabalho ou quando a esposa passa a exigir mais e mais sexo e ele se sente cansado.


A série mostra ainda o quanto as aparências enganam. Quem vê a família de fora pode achar que tudo está bem, mas só eles sabem o que estão enfrentando. E há os pequenos segredos que todos guardam e que, em algum ponto, acabam gerando problemas. Além disso, o próprio nome da série já dá uma cutucada no American way of life supostamente perfeito nos subúrbios ensolarados da Califórnia, onde os gramados são sempre verdes e as esposas sempre sorridentes e dispostas às maiores loucuras para manter a forma (e, de novo, as aparências). Para mim, o programa é uma mistura de 'Weeds' (que brincava exatamente com essa falsa perfeição dos subúrbios) com 'A mão assassina' (um filme tosco dos anos 90 que tem a mesma pegada de terror com humor e um morto que não está morto de fato).


'Santa Clarita Diet’ é uma série divertidíssima e viciante. Com 10 episódios de vinte e poucos minutos e personagens cativantes, é muito fácil sentar e acompanhar o desenvolvimento da trama. Essa primeira temporada termina com um gancho, e uma continuação seria justificável e muito bem-vinda. Pode encomendar a temporada 2, Netflix!

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