quinta-feira, 14 de setembro de 2017

E o tema é... Filmes Sul-Coreanos


Adoro fazer posts temáticos, principalmente de filmes. Desde julho não rola um ‘E o tema é...’ por aqui, então vou aproveitar que estou com tempo e que assisti a alguns filminhos sul-coreanos nos últimos dias e vou fazer uma postagem especial. Quem já está familiarizado com o estilo, se joga que é diversão na certa. Quem não conhece, vale a pena dar uma conferida.

Medo (Janghwa, Hongryeon; A tale of two sisters – 2003, Kim Jee Woon)
O filme começa com duas irmãs voltando para casa depois de passarem um tempo afastadas (não fica claro no início onde elas estavam). Quem as recebe é a madrasta, daquelas típicas de contos de fadas: na frente do pai das garotas, ela é um amor e se mostra atenciosa com as garotas; quando ele não está por perto, ela é grossa e às vezes violenta com as meninas. Logo ficamos sabendo que o afastamento das garotas da casa teve a ver com a morte da mãe delas, e que esse trauma ainda está longe de ser curado. O que eu posso dizer sobre esse filme é: preste atenção nos detalhes, em tudo, até naqueles que parecem insignificantes, e desde a primeira cena. Embora com poucos minutos já dê para notar que há algo de estranho naquela família, o mistério só é revelado bem no finzinho do filme. A montagem toda irregular com inúmeras idas e voltas no tempo fez meu cérebro travar às vezes, mas, relembrando as cenas depois que os créditos subiram, deu para encaixar cada peça em seu devido lugar. E é aí que está a genialidade do filme. Há uma refilmagem americana da história (que não vi), certamente mais explicadinha e menos impactante. Tem outro filme do diretor ali nos posts relacionados (‘Eu vi o diabo’).
Nota: 4/5

Invasão zumbi (Busanhaeng; Train to Busan – 2016, Yeun Sang-Ho)
Este é mais recente e tem sido um sucesso de crítica e público. É a história de um grande executivo que é um pai relapso e que acha que tudo se resolve com dinheiro e influência. No dia do aniversário da filha, ele precisa levá-la até Busan, cidade onde mora a mãe da menina. Muito a contragosto, ele vai. Só que quando eles já estão dentro do trem, ficam sabendo que está havendo uma epidemia de zumbis e, o pior, alguns passageiros já estão infectados! Então pai e filha precisam lutar para sobreviver em um ambiente fechado cheio de criaturas sanguinárias e pessoas sadias que são mais odiosas que os pobres comedores de cérebros. Achei muito bom e tão tenso que acabei de ver o filme com dor no pescoço... hahaha. Vale muito a pena!
Nota: 4/5

The Villainess (Aknyeo; The Villainess – 2017, Byeong-gil Jeong)
Este é novíssimo e estreou no Festival de Cannes em maio deste ano. Mais um ótimo exemplar de um subgênero que o pessoal da Coreia do Sul domina como ninguém: histórias de vingança (hehe). Aqui temos uma moça que foi treinada para matar desde criança (e que não brinca em serviço). Ela é capturada e forçada a trabalhar para uma agência de inteligência sul-coreana por 10 anos. Depois de cumprir as primeiras missões, ela é liberada para morar em um apartamento fora das instalações de treinamento, e assim vai levando a vida: como uma mãe solteira comum que tem um trabalho corriqueiro na maioria dos dias (mas que vez ou outra é chamada para matar umas pessoas por aí). Só que numa dessas missões ela reencontra um cara que já havia complicado seu passado, e então ela se dá conta de que está realmente sozinha e que precisa acertar as contas com ele e com a organização para quem trabalha. O grande diferencial do filme são as cores fortes, os ângulos inusitados e a câmera que passeia com a protagonista, dando ao espectador a visão que ela tem – a sequência inicial é arrasadora: quase cinco minutos de matança num corredor com a câmera em primeira pessoa, seguidos por mais uns três minutos de pancadaria em outra sala. Me deu um certo enjoo (porque sou dessas que enjoa com qualquer coisa), mas é uma abertura realmente maravilhosa. Ah... mais um filminho que exige atenção para acompanhar as idas e vindas no tempo.
Nota: 4/5

A criada (Ah-ga-ssi; The handmaiden – 2016, Park Chan-wook)
Uma moça pobre que decide participar de um golpe para melhorar de vida e vai trabalhar como criada na casa de uma rica herdeira. As coisas, é claro, não saem bem como planejado. Eu já tinha assistido (e falado aqui) de ‘Falsas Aparências’ (Fingersmith), a versão da BBC para o livro da escritora galesa Sarah Waters, mas decidi ver esse filme porque Park Chan-wook é um dos meus diretores favoritos. Não me decepcionei. A transposição da trama da Era Vitoriana para a década de 30 na Coreia do Sul inseriu novos conflitos, e o teor erótico adicionado é bem encaixado. Sem dúvida, o diretor conseguiu tornar a história mais sombria e, visualmente, mais bela. Mas não foi só isso que mudou: as motivações das personagens e a forma como a relação entre elas é mostrada dizem muito sobre o que importa para aquele que está atrás da câmera – um exercício interessante observar a trama pela ótica de uma diretora e de um diretor. De todo modo, um ótimo filme. Já postei aqui sobre alguns trabalhos dele (embora não tenha escrito sobre sua famosa trilogia: 'Old Boy', 'Lady Vingança' e 'Mr. Vingança'), mas tem outros links ali embaixo.
Nota: 4/5

Mother - A busca pela verdade (Madeo; Mother – 2009, Bong Joon-ho)
Uma senhora cuida sozinha de seu filho que, embora já tenha quase 30 anos, tem certa deficiência cognitiva, o que a deixa constantemente em alerta. Um dia, ele é preso, acusado de ter assassinado uma adolescente. Desesperada, a mãe tenta provar a inocência do filho. Só que, durante sua busca pela verdade, a mãe faz algumas descobertas perturbadoras e a forma como ela lida com isso é que diferencia este filme de inúmeros outros que têm como base a luta materna pare defender a cria. Esse filme estava no meu HD fazia anos e adorei tê-lo encontrado agora. Até a metade da história, eu estava achando tudo bem mediano e previsível, mas a segunda hora de projeção fez tudo mudar de figura – e finalmente entendi por que o filme recebeu tantos elogios. Drama dos bons.
Nota: 4/5

Bônus:
Okja (Okja – 2017, Bong Joon-ho)
O filme que causou polêmica por ter sido uma produção da Netflix a concorrer à Palma de Ouro e/ou por incomodar pessoas ‘extremamente ingênuas’ (para não usar um adjetivo ofensivo – aquelas que devem pensar que hambúrgueres nascem em bandejas de isopor) ao mostrar, ainda que com ares de aventura juvenil, a vergonhosa realidade da indústria da carne. Acho que a película não é digna de todo esse alvoroço (por nenhum dos dois motivos), mas é bacaninha, a porca digital é muito bem-feita e, se a história fizer alguém finalmente começar a pensar no que come e como essa comida é produzida, então já merece ser visto. [Nota: 3/5]. Só botei aqui porque é mais um trabalho do diretor Bong Joon-ho, que tem outra coprodução internacional no currículo (que também fala sobre a destruição do planeta causada pela humanidade): ‘O expresso do amanhã’ [para esse dei nota 3,5/5]

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4 comentários:

Anônimo disse...

Sangue para todo lado neste post, hein?? rsrs

Michelle disse...

Julia,
Opa! Espirrou aí? Rs...
'A criada' não tem tanto sangue. E tem o 'Okja' também (espera... tem sangue sim...hahaha).
Bjo

Lígia disse...

Gosto bastante do pouco que vi do cinema coreano. Dos filmes que você comentou, só vi "Mother" e gostei muito. Quero muito ver "Invasão Zumbi" e "A criada". Nunca tinha ouvido falar em "Medo" e fiquei curiosa, gosto de histórias sobre famílias misteriosas.

Michelle disse...

Lígia,
Medo é muito bom. Dá um nó no cérebro, mas é bem interessante, viu?