segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Resenha: Persépolis


“Persépolis” é a história de uma garota iraniana de 10 anos que tem sua vida completamente alterada quando, em 1979, é iniciada a revolução que transforma o país monárquico e moderno em uma república islâmica extremamente conservadora. Se para um adulto esse tipo de mudança já é difícil de assimilar, imagine para uma criança, que de um dia para o outro é separada dos amigos (pois eles são do sexo oposto), obrigada a usar véu, proibida de participar de festas e outras coisas mais. Nesta graphic novel, Marjane Satrapi nos conta suas experiências de infância e adolescência.

Da primeira vez que ouvi falar de “Persépolis”, era sobre o filme, que foi indicado ao Oscar de melhor animação em 2008 e chegou a ser exibido em circuito comercial no Brasil. Acabei assistindo em casa mais tarde e fiquei maravilhada. O livro eu namorei por um bom tempo, até que há alguns meses comprei em uma promoção. E minha leitura foi o reencontro com aquela história que eu tinha visto nas telas anos antes, agora com mais detalhes e em outro ritmo.

O livro traz em suas páginas iniciais uma breve introdução histórica sobre a política e a religião do Irã, áreas que estão intimamente ligadas. Isso foi muito útil porque as informações de conflitos no Oriente Médio me parecem sempre confusas. Ter um apoio histórico ajuda a entender melhor a cultura do país. No entanto, embora a trama se passe em uma região com hábitos e valores muito diferentes daqueles com que estou familiarizada, os problemas abordados são universais.

Na fase infantil de Marje, temos as dificuldades de lidar com as mudanças, a falta de entendimento do que estava acontecendo, os horrores do conflito vistos pelos olhos inocentes da garota, que sonhava em ser profeta para resolver todos os problemas do mundo, disputava com os amiguinhos quem tinha mais parentes presos/desaparecidos e inventava histórias de heróis.

Respiros cômicos em tempos difíceis

Já na adolescência, quando se refugia na Áustria, Marje deixa para trás a repressão da ditadura recém-instalada e os perigos do novo governo, mas enfrenta um tipo de opressão diferente: o de se ver sozinha em um país estrangeiro, sem amigos e sem família. Além disso, ela sofre ainda por não conhecer a língua direito, por não se encaixar nos padrões de beleza, não seguir certos comportamentos sociais. A solidão durante essa fase de sua vida é muito grande e demora até Marje se reencontrar e se redefinir.

Quando parece que vai finalmente colocar a vida nos eixos, Marje se sente mais uma vez deslocada. Depois de 4 anos longe de casa, ela já não é mais a mesma e a terra natal que encontra ao regressar está arrasada pela guerra. Se Marje teve sorte em algum momento, foi por ter nascido em uma família rica, bem instruída e liberal. A postura moderna nos pais permitiu a ela se informar, tomar partido, criar consciência, lutar por suas convicções; o dinheiro permitiu que ela fosse para longe das bombas. Todavia, não havia nada que pudesse impedir seu sofrimento. Perto ou longe de casa, os conflitos atingiram a todos.

Apesar do assunto sério e pesado, a história tem seus momentos divertidos, principalmente quando mostra o universo infantil. Algumas cenas de constrangimento social também acabam sendo engraçadas.

O traço é bem simples, sem muita elaboração de expressões, fundo e detalhes. A impressão é em preto e branco. A força maior está no que é dito, mas isso não quer dizer que as imagens não sejam impactantes ou até mesmo bonitas.

Traço simples, mas forte

Em suma, é a história de uma garota que viveu momentos conturbados em seu país, enfrentou o desconhecido e o isolamento, se perdeu e se reencontrou. Uma protagonista que passou de criança a mulher, enfrentou dificuldades, encarou preconceitos, mas se recusou a aceitar o que lhe era imposto sem contestar. Uma grande inspiração.

Essencial, assim como o filme.

6 comentários:

Tamara Costa disse...

Li o quadrinho tem um bom tempo e de queda ainda vi o filme pra complementar.
É muito bom mesmo e sou louca pra ter meu exemplar.

Anônimo disse...

Michelle, a introdução também me ajudou bastante na compreensão da história do Irã. Os conflitos daquele lado são confusos [2]. A fase infantil de Marjane é cômica e de alguma forma nos prepara para o que vem pela frente. “Se Marje teve sorte em algum momento, foi por ter nascido em uma família rica, bem instruída e liberal.” Concordo! Os pais e os familiares próximos foram um grande exemplo. O traço é simples, mas muito impactante, assim como a narrativa. “Persépolis” é fantástico! Uma dos melhores quadrinhos que já li ^^
Abraços!

mm amarelo disse...

Michelle, é sério, mês que vem compro meu "Persépolis". É promessa! rs
beijo grande,
Maira

Anônimo disse...

Tanto o filme quanto os quadrinhos são fabulosos!! Concordo com você: essencial.

Michelle disse...

Tamara,
Também gostei de ambos. Queria ter lido antes, mas só há pouco tempo consegui uma promoção. Valeu a pena esperar!

Lulu,
Não é? A introdução me ajudou um bocado, embora ainda tenha sido difícil em alguns momentos.

Maira,
Torcendo para você comprar mesmo. ;)

Julia,
Difícil alguém não gostar, né?

Renato Corrêa disse...

A guerra Irã Iraque foi terrível, morreram quase 1 milhão e meio de pessoas, inclusive com o uso de armas químicas.