quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Veja Mais Mulheres: Filme #41 - E agora, onde vamos?


Em uma aldeia libanesa isolada por minas terrestres, cristãos e muçulmanos convivem pacificamente. No entanto, a notícia de conflitos entre seguidores das duas crenças em um local distante abre feridas antigas entre os homens do povoado. Para evitar que seus maridos e filhos se matem em uma guerra religiosa, as mulheres do lugarejo usam as mais inusitadas estratégias.


O filme começa com um grupo de mulheres que caminham juntas, no mesmo compasso. Elas vestem roupas pretas, cantam e batem no peito. Dançam como se formassem um único organismo. Observando com mais atenção, vemos que algumas usam véu e roupas que cobrem totalmente o corpo, enquanto outras vestem saias mais curtas e vestidos que deixam os braços à mostra. No entanto, se suas crenças e vestes as diferenciam, o luto as une.


A cena inicial que descrevi acima é incrível e já resume a tônica do filme. Para manter os homens de seus lares a salvo, as mães e esposas libanesas fazem qualquer coisa. E quando digo qualquer coisa, é realmente qualquer coisa. Elas ignoram diferenças, passam por cima do orgulho, quebram tabus: o que for necessário para não precisarem mais chorar seus mortos.


Vale observar que tanto o padre quanto o imam se empenham em tentar manter a paz na aldeia, agem sempre em conjunto, jamais deixam a fé interferir no bem-estar de toda a comunidade. Eles até quebram algumas regras para apoiar as mulheres em seus planos para evitar o conflito (como quando, por exemplo, o padre participa da farsa da santa que chora lágrimas de sangue que o mulherio encena como um sinal para que os homens deixem de lado sua intenção de batalha).


Os maridos e filhos, por outro lado, agem feito meninos mimados: querem sair na mão ao menor desentendimento, acham que qualquer incidente de rotina é provocação daqueles que seguem outra crença, demonstram reações violentas e desproporcionais até mesmo contra crianças, enfim... quando contrariados, eles gritam e fazem birra. Cabe às esposas e mães acalmar os marmanjos malcriados.


Apesar do assunto pesado, o filme é agradável de assistir e tem muitos momentos engraçados. Como quando as mulheres, não sabendo mais o que fazer para evitar que os homens entrem em guerra, dão um passo ousado e mandam buscar um grupo de dançarinas ucranianas para entreter os sujeitos. Como se não bastasse, as senhoras da aldeia ainda preparam um banquete especial para os homens com receitas secretas à base de haxixe e calmantes!


Gostei muito do filme pela forma como a diretora mostra a união feminina e a inteligência das mulheres como armas para combater o comportamento explosivo e egoísta dos homens da aldeia. As diferenças religiosas, o papel das mulheres e o peso das tradições também são bem explorados em uma trama que combina momentos tensos, hilários, românticos e dramáticos. Recomendo muitíssimo.

Nota: 4/5
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Sobre a diretora:

Nadine Labaki é uma atriz, roteirista e diretora libanesa formada no curso de audiovisual pela prestigiosa Universidade São José de Beirute. Seu primeiro longa-metragem é ‘Caramelo’, de 2007, que lhe rendeu inúmeros prêmios e fama mundial, colocando seu nome na lista da revista Variety dos 10 Diretores a Serem Vistos no Sundance Festival daquele ano. Seu segundo trabalho, no qual ela foi roteirista, atriz e diretora, é ‘E agora, onde vamos?’, lançado em 2011, que também foi um sucesso. Labaki também dirigiu um segmento do filme 'Rio, eu te amo', no qual diretores do mundo todo declaram seu amor ao Rio de Janeiro.

Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI. 

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